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Sonntag, 15. November 2009

seitens der Städte, Lissabon, António Ramos Rosa

António Víctor Ramos Rosa
Nascido a 17 de Outubro de 1924, , é natural de Faro onde frequentou os estudos secundários que não chegou a completar devido a problemas de saúde.
Desenvolveu interesse pela literatura lendo obras dos principais autores portugueses e estrangeiros e dando uma preferência especial aos poetas, enquanto exercia a profissão de empregado de escritório.

Não tenho lágrimas
estou mais baixo junto à cal Vejo o solo extinto Não oiço ninguém e não regresso Adormecer talvez junto a uma estaca com uma pequena pedra sobre as pálpebras

de Intacta Ferida(1991)


Enquanto adolescente, sentiu-se fascinado com a modernidade da poesia de José Régio e ficou "apaixonado" por Fernando Pessoa. Durante a juventude escreveu centenas de poemas que queimou devido a uma lucidez em relação à sua actividade poética e também a uma descrença que sempre teve em relação a si mesmo.
A partir desta altura, outros poetas passaram a ser objecto da sua atenção: Carlos Drummond de Andrade, António Machado, Pedro Salinas, Vicente Alexandre, Luís Cernuda, Juan Ramon, Jimenez,
Éluard, alguns poetas sul-americanos e espanhóis e os poetas de origem francesa que trouxe para o mundo da poesia portuguesa como é o caso de Jean Tortet, Edmond Jabès, Bonnefoy, Salah Setie e de Jaccottet. Também recebeu influências de Theodor Roethlee, Wallace Stevens, ambos fora da cultura de raiz latina.

O amor cerra os olhos
O amor cerra os olhos,não para ver mas para absorver:a obscura transparência,a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria.Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias.O amor conhece-se sobre a terra coroada:animal das águas,animal do fogo,animal do ar:a matéria é só uma,terrestre e divina.

de Três Lições Materiais(1989)

No ano de 1945, vem para Lisboa a fim de exercer a profissão de empregado comercial, que definitivamente era como que uma prisão à sua criatividade. Porém, dois anos depois regressa a Faro, onde se integra nas fileiras do M. U. D. Juvenil, tendo estado preso por essa militância.
Novamente regressado a Lisboa (em 1947/48), leccionou português, francês, inglês e iniciou também uma carreira de tradutor para a editora Europa-América, para além do emprego que exercia numa firma comercial.
O interesse constante que tinha pela literatura levou-o a relacionar-se com outros escritores. Começou a colaborar em numerosos jornais e
revistas com alguns deles, aos quais o ligavam questões relacionadas com o papel do poeta e da poesia no mundo.
A certa altura da sua vida, abandonou o emprego que exercia como empregado de escritório devido à crescente importância que a actividade literária foi tomando no seu dia-a-dia, em prol de uma
dedicação contínua e total que esta lhe exigia.


Actualmente reside em Lisboa, com a sua esposa, e continua a dedicar-se à poesia, uma necessidade que orienta o seu dia-a-dia, e também aos desenhos que faz quando não está a escrever. Ainda hoje, quando abordado por pessoas que conhecem a sua obra e dela gostam e que conseguem compreender a sua mensagem, fica radiante por saber que o seu mundo, a sua maneira de o ver e a sua forma de vida são partilhados por outros.
Lamentavelmente, só nos últimos anos a imagem e obra do poeta têm tido a atenção e estatuto a que naturalmente tem direito. Foi
homenageado, no dia 7 de Março de 88, na Galeria do Centro de Arte Soctip, por ocasião do lançamento da revista belga "Le Courier du Centre Internacional d'Études Poétiques", nº especial inteiramente dedicado ao poeta. Também nesse ano viria a ser distinguido com o Prémio Pessoa.
Poema dum Funcionário Cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos dispersou-me os amigos tenho o coração confundido e a rua é estreita estreita em cada passoas casas engolem-nos sumimo-nosestou num quarto só num quarto só com os sonhos trocados com toda a vida às avessas a arder num quarto só Sou um funcionário apagadoum funcionário triste a minha alma não acompanha a minha mão Débito e Crédito Débito e Crédito a minha alma não dança com os números tento escondê-la envergonhado o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente e debitou-me na minha conta de empregado Sou um funcionário cansado dum dia exemplar Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever? Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço Soletro velhas palavras generosas Flor rapariga amigo menino irmão beijo namorada mãe estrela música São as palavras cruzadas do meu sonho palavras soterradas na prisão da minha vida isto todas as noites do mundo numa só noite comprida num quarto só
Considerado um dos melhores poetas portugueses contemporâneos, António Víctor Ramos Rosa, tem recebido inúmeros prémios e já viu o seu nome apontado como candidato ao Prémio Nobel da Literatura.
A aventura das palavras que é a sua
poesia não deixa indiferentes os que a lêem; o poeta figura em inúmeras antologias estrangeiras, nomeadamente na Europa e América-Latina. Ao longo da sua obra, estão reflectidos desde o subjectivismo inicial ao cultivo puramente objectivo, elementos neo-realistas, surrealistas, neo-clássicos e neo-barrocos.
Nas décadas de 50/60, foi fundador e co-director de algumas
revistas, colaborador em diversas publicações portuguesas, bem como em publicações francesas, espanholas e brasileiras. Organizou e prefaciou várias antologias. Foi tradutor de algumas obras e publicou vários artigos em diversos jornais e revistas, revelando-se também como ensaísta.
Ler e partilhar a poesia de António Ramos Rosa é entrar numa viagem grátis pelo
mundo perfeito da fantasia que é o da realidade.
Não posso adiar o amor para outro século
não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas Não posso adiar este braço que é uma arma de dois gumes amor e ódio Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação Não posso adiar o coração.

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