Imre Kertész Descendente de uma família judaica, foi deportado em 1944 para Auschwitz e Buchenwald, sendo libertado em 1945 pelas tropas norte-americanas e regressando como único sobrevivente de uma família inteira dizimada pelos nazis. De volta a Budapeste trabalhou de 1948 a 1951 como jornalista na publicação Világosság, do qual foi despedido quando o jornal passou a órgão do Partido Comunista Húngaro.Autor foi deportado para Auschwitz aos 15 anos
Em 1944, aos 15 anos, Kertész foi deportado para Auschwitz, depois para Buchenwald e Zeitz. Conheceu os horrores dos campos de concentração nazistas e sobreviveu a eles. E, claro, como intelectual e escritor, questionou-se imensamente, após a guerra, sobre sua identidade: judeu? Húngaro? Judeu e húngaro, talvez, se isso fosse possível. Não é sem lamento, portanto, que constata que sua língua materna, „essa língua estrangeira”, o ajuda a entender seus próprios assassinos. Kertész morou em vários lugares, está sempre viajando, como atesta „Eu, um outro” (em ótima tradução de Sandra Nagy), e não consegue fazer seu ninho em lugar nenhum. Assume-se como um eterno exilado, como um estrangeiro em qualquer lugar onde esteja, na Hungria ou em Israel.
A idéia do escritor como um estrangeiro dentro da própria língua já foi muito explorada e discutida. Mesmo correndo o risco da repetição, porém, é inevitável voltar a esta analogia, pois a situação de Imre Kertész é justamente a de um escritor que não tem pátria, nem em seu próprio país. Um escritor que escreve numa língua ao mesmo tempo materna e estrangeira. Não é de se espantar portanto, que ao falar de suas inúmeras viagens, ele afirme viver como um exilado: „Nesse único aspecto vivo correctamente: sou um exilado”. Sobrevivente de Auschwitz, judeu numa Hungria anti-semita e, durante anos stalinista, escritor e viajante, Kertész vive o exílio tanto física quanto simbolicamente.
Quase todos os seus textos como a trilogia „Sem destino”, „Fiasco” e „Kadish”, tratam do Holocausto, seja de forma ficcional ou reflexiva. Mas seria um erro pensar que Kertész escreve porque viveu a experiência traumática dos campos. A lógica é outra: ele escreve e, como escritor que passou por essa experiência particular, não poderia deixar de abordá-la. Estaria mentindo para si mesmo se pretendesse esquecê-la, sem mencioná-la.
No entanto, a grandeza de sua literatura reside no fato de que ela ultrapassa os limites do estritamente pessoal e transforma o Holocausto num assunto referente a toda a Humanidade, não apenas ao povo judeu ou àqueles que sofreram tal atrocidade.
O escritor é levado, pela paixão de seu ofício, „a descrever a condição humana”, e, por esse motivo, precisa „abrir seu coração para a total miséria que reside nessa condição”. Isso não significa uma vida (ou uma obra) feita de lamentos. Ao contrário: a felicidade, afinal, só é possível para quem encara o mundo sem esquivar-se, mesmo guando a realidade alcança o insuportável, como no caso dos campos de concentração.
Em „Eu, um outro”, Kertész demonstra uma lucidez gritante, e sem dúvida, é essa lucidez que o torna feliz. Como ele nos lembra, felicidade no é esse sentimento pasteurizado que se vende por aí quase como obrigação, mas algo que se obtém quando se está disposto a fazer parte de mundo, aberto a tudo o que ele tem de belo e triste. É por isso que falar dos horrores do Holocausto torna-se inevitável para um escritor como Kertész. Afinal, como ressalta Nietzsche (aliás, um do filósofos traduzidos por ele para húngaro), é preciso lembrar para esquecer.
Former cinematographer Lajos Koltai stunned the Berlin Film Festival with this Second World War drama based on the 1975 Nobel Prize winning novel by Imre Kertész, a semi-autobiographical work about his experience as a 14-year-old deported to the concentration camps from Budapest
No entanto, lucidez não é, aqui, sinônimo de compreensão. „Não entendemos o mundo porque não é essa a nossa tarefa na terra”, diz o narrador de „Eu, um outro” Em vez de buscar uma explicação que encapsule o sentido de nossa existência, Kertész estende a mão ao leitor e convida-o para um passeio por seus pensamentos e sensações.
Há algo de leve e doce em suas palavras, mesmo quando tratam de temas duros, desde barbáries coletivas a dramas individuais, como a doença da esposa. Há também, e acima de tudo, uma generosidade rara. Nada é mais generoso do que enfrentar as intempéries e, sem perder a esperança, continuar acreditando na Humanidade. Nesse sentido a opção de Kertész pela vida e pela escrita é um verdadeiro dom, a dádiva de um „eu” aos outros.
Tatiana Salem Leví
Após ter cumprido serviço militar durante dois anos dedicou-se à escrita e à tradução para húngaro de autores alemães como Nietzsche, Hofmannsthal, Schnitzler, Freud e Wittgenstein, entre outros, o que influenciou fortemente a sua escrita. Escreveu ainda musicais e teatro de diversão.Durante cerca de 10 anos trabalhou no livro, Sem Destino, o seu primeiro romance.Da sua prestigiosa carreira literária fazem parte inúmeros prémios entre os quais se destacam o Brandenburger Literaturpreis em 1995, o Leipziger Buchpreis zur Europäischen Verständigung em 1997, o Herder-Preis e o Welt-Literaturpreis em 2000, o Ehrenpreis der Robert-Bosch-Stifung em 2001, o Hans Sahl-Preis em 2002 e o Prémio Nobel da Literatura 2002, "por escrita que confirma a frágil experiência do indivíduo face à arbitrariedade bárbara da história".
A obra mais conhecida de Kertész, Sem destino (Sorstalanság), descreve a experiência de um rapaz de quinze anos nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, Buchenwald e Zeitz. Foi interpretada por alguns críticos como quase-autobiográfica, mas o autor desmente uma forte ligação à sua biografia.
A partir de Sem destino foi rodado um filme na Hungria, em 2005.
Obra
Sorstalanság (trad.Sem destino)(1975)
A nyomkereső (1977)
Detektívtörténet (1977)
A kudarc (pt: A Recusa/ br: O Fiasco)(1988)
Kaddis a meg nem született gyermekért (pt: Kaddish para uma Criança que não Vai Nascer)(1990)
Az angol lobogó (1991)
Gályanapló (1992)
A holocaust mint kultúra : három előadás (1993)
Jegyzőkönyv Imre Kertész; Élet és Irodalom / Esterházy Péter (1993)
Valaki más: a változás krónikája (pt: Um Outro - Crónica de Uma Metamorfose)(1997) Em „Eu, um outro”, Imre Kertész compartilha com o leitor reflexões sobre a identidade, a morte, a escrita e a existência. De 1991 a 1995, entre palestras e passeios por países como Áustria, Hungria, Israel e Alemanha, o escritor húngaro, quase sempre acompanhado da mulher (que ele chama apenas de A.), faz anotações sobre os factos à sua volta, mas, como ele mesmo diz, essas notas não se assemelham em nada aos factos.
Em vez da colecção de imagens e anedotas do turista habitual, trata-se aqui de uma viagem em busca de uma identidade. Mas uma identidade que se sabe estilhaçada, um „eu” sempre outro. Embora levante de vez em quando a questão „quem sou eu?”, Kertész não está exactamente preocupado em respondê-la, pois sabe que não existe resposta possível. O que lhe interessa, isso sim, é construir caminhos por onde esse „eu” possa se fazer e se desfazer. Diz já não estar mais a procura de sua pátria, nem de sua identidade. Afirma-se, acima de tudo, como escritor: „Tenho uma unica identidade, a identidade do escrever”. Ao optar pela literatura, Kertész opta também pela alteridade, pela diferença, libertando-se do aprisionamento de certos estigmas em que ele próprio, pela sua condição de judeu húngaro, se encontra.
A gondolatnyi csend, amíg a kivégzőosztag újratölt (1998)
A száműzött nyelv (2001)
Felszámolás (br: Liquidação) (2003)
im:Wikipedia/youtube
Keine Kommentare:
Kommentar veröffentlichen