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Sonntag, 25. Januar 2009

seitens der Städte.. BERLIN: Robert Walser


BERLIN 2008
Kino:G.Ludovice

Robert Walser (Biel- Suiça, 15 de Abril de 1878Herisau, 25 de Dezembro de 1956)

Depois de abandonar a escola, aos 14 anos, trabalhou como empregado de escritório ao mesmo tempo que escrevia poesia. Por razões econômicas, Walser foi obrigado a deixar os estudos para ser aprendiz no Banco do Cantão de Berna. Um professor aconselhou seus pais a lhe enviarem para a formação de escriturário devido sua caligrafia bonita e rápida. Características de sua personalidade que lhe acompanhariam por muitos anos.

Período berlinense
Viveu em Berlim entre 1905 e 1913. Nos primeiros meses de sua chegada fez um curso de formação para criados e trabalhou como tal durante alguns meses num castelo em Dambrau.
A prática serviçal foi tematizada em sua obra e especialmente no livro Jakob von Gunten, de 1909 (mesmo título em português). No começo de 1906 o autor retornou para Berlim, onde trabalhava seu irmão Karl Walser como pintor, ilustrador de livros e cenógrafo. Foi ele quem lhe possibilitou contactos com escritores, editores e artistas.
Durante esse período, além de Jakob von Gunten, publicou Geschwister Tanner (sem tradução para o português) e O Ajudante pela editora Bruno Cassirer.
Também escreveu textos curtos em forma de prosa que foram publicados em respeitados jornais e revistas da época.
Seus textos e esboços literários tornaram-se uma de suas características como escritor e não podem ser enquadrados em nenhuma categoria literária.
Ele tematizava os acontecimentos do quotidiano, onde encontrava a poesia e os segredos da vida. Contemporâneos consagrados como Franz Kafka, Hermann Hesse e Walter Benjamin admiravam seu talento.

O autor nunca teve um endereço fixo. Sempre viveu em quartos mobiliados e mudava constantemente. Entre 1896 e 1905, período em que residiu principalmente em Zurique e escreveu seus primeiros textos literários, mudou-se pelo menos 17 vezes, sem contar as estadias


em Munique, Berlim, Winterthur e outras.
Esse aspecto nômade de sua personalidade, o facto de vir de uma família pobre e trabalhar como escriturário para se sustentar, também contribuíram para que em vida fosse ignorado pelo público.
Seu primeiro livro, publicado em Zurique, em 1904, Fritz Kochers Aufsätze vendeu durante os primeiros seis meses apenas 49 exemplares. Apesar da pouca ressonância, Walser se demitiu do cargo de escriturário no Banco do Cantão de Zurique e foi tentar a vida como escritor em Berlim. Levou uma vida errante e precária.

Publicou o primeiro livro em 1904, As composições de Fritz Kocher.
Escreveu obras magníficas como Os irmãos Tanner (1907), O Ajudante (1908), Jakob von Gunten (1909).

Em 1909 regressou a Biel mas foi acometido de uma depressão profunda e de crises alucinatórias recorrentes. Durante esse período escreveu livros de prosas curtas como O passeio e outras histórias (1917), Vida de poeta (1918) e A rosa (1925).

Quando retornou para a Suíça, morou durante sete anos e meio em um quarto de sótão na ala dos serviçais do hotel Blaues Kreuz em Bienne, sua cidade natal.
Nesse período foi convidado por um círculo literário de Zurique para fazer uma leitura de seus textos. Ao fazer uma preliminar, provavelmente por causa do sotaque do dialecto bernês, um dos organizadores, irritado, exclamou: "O senhor não sabe falar alemão!"
Pagou-lhe então o honorário e pediu a um redactor do tradicional jornal Neue Züricher Zeitung para fazer a leitura. Durante o evento o escritor permaneceu sentado anonimamente entre o público. Como dizia Walser: "Não são nos caminhos rectos e sim nos desvios que se encontra a vida."


O novo empregado
"Certa manhã, às oito horas, um jovem estava diante da porta de uma casa isolada e de bela aparência. Chovia. 'Para mim', pensou o rapaz ali postado, 'é quase um milagre ter nas mãos um guarda-chuva'. O certo é que jamais tivera um guarda-chuva em sua infância. Numa das mãos, estendida verticalmente ao longo do corpo, segurava uma mala marrom, dessas bem baratas. Diante dos olhos desse que aparentemente chegava de viagem, havia uma placa esmaltada em que se lia: K. Tobler, Escritório Técnico. Esperou ainda um instante, como para reflectir sobre qualquer coisa certamente sem nenhuma importância, depois apertou o botão da campainha eléctrica, a qual atendeu uma pessoa, que tudo levava crer ser a criada.
– Sou o novo empregado – disse Joseph, pois esse era o seu nome."
Trecho de O Ajudante

Escreveu os seus últimos livros a lápis numa letra cada vez mais miúda- microgramas, dificílimos de decifrar. O Salteador, escrito em 1925-26, só viria a ser decifrado e publicado em 1972. Em 1933, Robert Walser foi internado numa clínica para doentes psiquiátricos em Herisau, onde passou o resto da vida. Dava longos passeios a pé e não voltou a escrever uma única linha.
"I am not here to write, but to be mad" disse Walser.

A sua obra inclui ainda poemas, ensaios e crónicas. O escritor suíço Robert Walser (1878-1956) foi lido e admirado por contemporâneos notáveis como Robert Musil, Thomas Mann, Hermann Hesse e, sobretudo, Franz Kafka, que se dizia decisivamente influenciado por sua obra. Diferentemente desses autores que o apreciavam, contudo, Walser não ganhou fama universal. Ele se tornou uma espécie de "escritor para escritores", o que não é uma condição justa.

O lançamento de O Ajudante representa uma oportunidade para conhecer uma obra sempre instigante e às vezes genial, que se desdobrou em vários géneros, desde esboços, monólogos e contos fantasiosos até novelas caracterizadas pela ironia amarga, que as transforma numa paródia do romance de formação, o Bildungsroman, marca registrada da literatura de língua alemã desde Goethe.
A trama de O Ajudante é relativamente simples. No início da novela somos apresentados a Joseph, que acaba de ser contratado pelo Sr. Töbler, engenheiro e inventor, para trabalhar em projectos excêntricos, tais como um relógio que veiculará publicidade e uma máquina que fornece pacotes de cartuchos para fuzil. Töbler vive seus sonhos de grandeza, oferecendo festas em sua casa e cortejando possíveis investidores, sem notar os dramas ocultos de sua vida familiar. Os projectos de Töbler não têm êxito. Sua actividade concentra-se principalmente em ditar a Joseph cartas, mesclando súplica e arrogância, aos numerosos credores. Estes perdem a paciência e até a luz é cortada. Por fim, Joseph demite-se e abandona a casa – um desfecho aliás comum nas histórias de Walser, que não raro se encerram com a frase "finalmente, ele partiu". Escrito em 1907, quando Walser tinha 29 anos, O Ajudante tem, como é comum em autores jovens, elementos autobiográficos. A história, no entanto, é universal. Walser fala das desilusões da modernidade. Os mirabolantes projectos de Töbler não representariam a excepção, e sim a regra, e os que neles se engajam, como Joseph, vêem-se condenados à frustração.

A Walser assustava um mundo que constantemente pressiona as pessoas a ter sucesso.

"Eu não quero ter futuro, eu quero ter um presente", disse ele certa vez.

Parte da insegurança expressa nas obras de Walser provavelmente resultava da doença mental que interrompeu sua carreira. Doença para a qual existiam antecedentes familiares: a mãe, esquizofrénica, suicidara-se. O irmão, Ernst, também esquizofrénico, havia morrido num hospital psiquiátrico.

Após um surto depressivo que culminou em uma tentativa de suicídio, Walser internou-se, voluntariamente, numa clínica. De lá o transferiram, agora contra sua vontade, para um hospício. A partir daí, e talvez como um acto de protesto, Walser recusou-se a escrever.

"Estou aqui para ser louco, não para fazer literatura", teria dito. Mas, segundo testemunhos, ele escrevia, sim, em diminutos pedacinhos de papel. O que remete para um outro, e insólito, detalhe no trabalho de Walser. Boa parte de sua obra foi escrita numa caligrafia minúscula, que só podia ser lida por meio de um aparelho óptico. Isso tem um evidente aspecto simbólico: é a expressão de um escritor que "minimizava" o seu próprio trabalho. Trabalhou diversas vezes como escriturário para ganhar seu sustento, pois nunca pode viver de sua literatura. A caligrafia tornou-se uma de suas principais características. O escritor desenvolveu uma técnica para seus manuscritos que posteriormente foram chamados de microgramas. Grande parte de sua obra foi escrita com lápis sobre sacos de papel, em caligrafia que às vezes tinha somente um milímetro de altura.
Seus microgramas pareciam indecifráveis. Entretanto descobriu-se que a letra era uma miniaturização da escrita gótica alemã. Após 19 anos de trabalho, diversos especialistas puderam decifrar 526 páginas manuscritas que totalizaram mais de 4500 páginas de texto. Seus manuscritos são considerados os mais raros e caros do mercado

Walser permaneceu no hospício até morrer, em 1956. "Um dia eu serei um zero", afirma o personagem de outra de suas novelas, Jakob von Gunten. "Um bem redondo e fascinante zero." A doença pode ter aniquilado o homem, mas não destruiu a obra de Robert Walser.
Era 25 de dezembro e o escritor fazia mais uma de suas rotineiras caminhadas solitárias quando sofreu um ataque do coração, aos 78 anos de idade.

Os últimos 27 anos de sua vida foram vividos em duas clínicas psiquiátricas onde emudeceu como autor.
Os únicos pertences do escritor eram um relógio, dois livros que seu tutor, o jornalista Carl Seelig, lhe havia dado de presente, alguns trocados e a roupa que trazia no corpo.
Toda a sua obra foi resgatada postumamente através de pesquisas iniciadas por Seelig, um de seus grandes admiradores. Ele assumira a responsabilidade da conduta legal do escritor em 1944, quando a última irmã de Walser falecera.

I would wish it on no one to be me.Only I am capable of bearing myself.To know so much, to have seen so much, andTo say nothing, just about nothing.

Em Portugal (um século depois) foram publicados 5 livros:

Branca de neve, A Bela Adormecida e A Gata Borralheira, &etc, 2000, O passeio e outras histórias; Granito Editores e Livreiros, 2001, O Salteador, Relógio D’Água, 2003; A Rosa, Relógio D’Água, 2004; Jakob Von Gunten- Um diário, Relógio D’Água, 2005 e O Ajudante, Relógio D'Água, 2006.










Discurso de Vila Matas sobre Robert Walser


Homenagem na Alemanha

Há quase 50 anos, quando o escritor suíço Robert Walser foi encontrado morto sobre a neve de um dos jardins da cidade de Herisau, próxima a St. Gallen, na Suíça, ninguém poderia imaginar que décadas mais tarde sua obra fosse considerada como uma das referências literárias européias dos séculos XX e XXI, sendo traduzidas para dezenas de idiomas.
A Casa Literária de Berlim (Literaturhaus Berlin) apresentou até o dia 18 de novembro 2008 uma exposição e eventos diversos em homenagem ao autor que viveu mais de doze anos na Alemanha.

Robert Walser (retrato na exposição da Litearturhaus Berlin)


im:Blogues: Um buraco na sombra; Veja On-ine; Swissinfo.ch;



Sehnsucht nach einem Dolch (composição em 1917, manuscrito sem título)
" Um rapaz e uma rapariga, gente jovem a valer dos nossos tempos. Oskar e Emma de seu nome, amavam-se. Era profundo o seu amor, e ninguém duvidava menos e acreditava com mais fervor neste facto do que eles próprios. Até aqui tudo seria perfeito, só que havia qualquer coisa que lhes faltava, e vamos já dizer o que era esta qualquer coisa estranha e fabulosa que lhes faltava. Ninguém, para onde quer que olhassem, os impedia. Tinham licença, por assim dizer, para se amarem, beijarem, beijocarem e explorarem, sempre que para tal tivessem vontade. Mas era precisamente esse o problema: na ausência de entraves, cada vez menos tinham vontade de se dedicar a esta edificante ocupação. Se alguém viesse intrometer-se e os proibisse de trabalhar, a vontade deles seria tanto mais forte. Os dois bons e excelentes jovens adoeciam por virtude de uma abundância de liberdade, e os seus suspiros tinham por motivo uma falta de obstáculos. Pois a ambição deles, é preciso que se saiba, era a novela italiana, e como é do conhecimento comum as novelas italianas contam a história de amantes que se amam tão fogosamente, tão intimamente e com tão grande paixão apenas porque não devem. Oskar e Emma, entre outras coisas, não tinham sequer pais cruéis e casmurros. Faltava-lhes também o vilão que à noite espreita vilmente por detrás de um arbusto. Sim, é verdade, não tinham sequer um vilão, o inimigo do amor, sempre terrivelmente desconfiado. Mas tinham consciência de todas estas falhas e afligiam-se muito com elas. Ó triste era moderna, quadrangular e abstémia, ó indigna época das companhias aéreas e das viagens à volta do mundo, agora bem vês como às tuas mãos sofrem todos os amantes ávidos de aventuras. O amor de Oskar e Emma morria aos poucos, e porquê? Exacto, por não haver perigo. Ninguém os ameaçava, ninguém lhes fazia frente, e assim começavam a adormecer no cumprimento da sua actividade. Sempre que a actividade é concedida às cegas e sem mais, depressa começa a aborrecer e a retrair os movimentos. É esta a terrível anedota dos tempos em que estamos condenados a viver: tudo é permitido. Mas quando tudo é tão vilmente permitido, quando os amantes podem abraçar-se à vontade, sem que um deles tenha de olhar à sua volta, cheio de receio e sofrimento, para ver se algum perigo se abate sobre eles, tal implica a impossibilidade da novela italiana. Oskar e Emma queriam fazer uma novela, mas ela não singrava, começava a soçobrar. O estilo torna-se flácido. Querer criar uma novela genuína na ausência de qualquer perigo: eis um princípio pouco auspicioso. Os perigos são afinal as veias e os impedimentos são a vida de uma novela. E já não há impedimentos neste mundo sem carácter nem orgulho, incapaz mesmo de alimentar um nobre preconceito. As crianças podem vir ao mundo quando bem entenderem, antes ou depois do laço sagrado. Oskar e Emma bem o sabiam, e uma enorme angústia fincava garras nos seus jovens corações. Os pais deles eram gente sem preconceitos, oh miséria. Mas, na ausência de preconceitos, a novela é impossível. As novelas só podem singrar no terreno selvagem e precioso dos preconceitos arreigados. Onde haja alguém que seja indiferente, e onde não haja ninguém que não seja indiferente, também não pode haver histórias de amor. Nas antigas novelas italianas, ninguém é indiferente, e é por isso, é por isso que Oskar e Emma teriam preferido morrer. Mas morrer não é assim tão fácil na ausência de um punhal que peça para ser desembainhado. Oskar e Emma quase que morrem de saudades de um punhal."
In: Histórias de Amor, Robert Walser,
Relógio D'Água, 2008

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