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Sonntag, 7. Juni 2009

seitens der Städte.. LISSABON:Lobo Antunes

António Lobo Antunes


Já reparou como os desenhos das crianças são fascinantes até aprenderem a perspectiva? Quando começam a desenhar a três dimensões, perde-se tudo.
fonte: Diário de Notícias, 17.02.2006


É um escritor e psiquiatra português.
Romancista e cronista, Lobo Antunes é licenciado em
Medicina, com especialização em Psiquiatria. Esteve destacado em Angola, entre 1970 e 1973, durante a fase final da Guerra Colonial portuguesa. A sua experiência de guerra inspirou muitos dos seus livros. Regressado a Portugal, trabalhou no hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa.
Foi militante da
APU (Aliança Povo Unido - coligação liderada pelo Partido Comunista Português) em 1980.
Actualmente vive em Lisboa, dedicando-se em exclusivo à escrita.


(...) penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico. (...) Há sempre uma parte subterrânea nas obras de arte impossível de explicar. Como no amor. Esse mistério é, talvez seja, a própria essência do acto criador. (...) Quando criamos é como se provocássemos uma espécie de loucura, quando nos fechamos sozinhos para escrever é como se nos tornássemos doentes. A nossa superfície de contacto com a realidade diminui, ali estamos encarcerados numa espécie de ovo... só que tem de haver uma parte racional em nós que ordene a desordem provocada. A escrita é um delírio organizado.
fonte: Jornal de Letras, Janeiro 1982



António Lobo Antunes nasceu em Lisboa, em 1942. Estudou na Faculdade de Medicina de Lisboa e especializou-se em Psiquiatria. Exerceu, durante vários anos, a profissão de médico psiquiatra. Em 1970 foi mobilizado para o serviço militar. Embarcou para Angola no ano seguinte, tendo regressado em 1973, tendo entretanto sido pai da sua primeira filha.

Precisava de ter dez vidas: oito para escrever, uma para ser médico e outra para escrever sobre teoria da literatura.
fonte: Diário de Notícias, 16.02.2009

Em 1979 publicou os seus primeiros livros, MEMÓRIA DE ELEFANTE e OS CUS DE JUDAS, seguindo-se, em 1980, CONHECIMENTO DO INFERNO. Estes primeiros livros são marcadamente biográficos, e estão muito ligados ao contexto da guerra colonial; transformaram-no imediatamente num dos autores contemporâneos mais lidos e discutidos, no âmbito nacional e internacional.
Da sua obra - Explicação dos Pássaros, Fado Alexandrino, Auto dos Danados, As Naus, Tratado das Paixões da Alma, A Ordem Natural das Coisas, A Morte de Carlos Gardel, O Manual dos Inquisidores, O Esplendor de Portugal, Exortação aos Crocodilos, Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura, Que Farei Quando Tudo Arde, Boa Tarde às Coisas Aqui Em Baixo, Eu Hei-de Amar uma Pedra, Ontem Não te Vi em Babilónia e em 2007, o seu último romance O Meu Nome É Legião – constam, ainda, três volumes de crónicas.

Não existem livros maus, para mim, um livro merece sempre respeito. Há tanta esperança, por vezes sofrimento e até a saúde do autor... Eu agradeço os livros que me mandam, antes de os ler, para não ter de mentir, porque as pessoas não têm sentido autocrítico. Se lhes digo: «Eu não gostei do seu livro...», confundem-se a eles com o produto e consideram-no como algo pessoal. Se fosse crítico, criticaria só os livros de que gostasse, porque se pode fazer muito mal, as pessoas ficam muito mal quando recebem uma crítica adversa; é muito doloroso.
fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002

Seria incapaz de dizer mal de um livro. Mesmo que o livro fosse desonesto, mesmo que o livro fosse mau, não falaria sobre ele. Portanto, se fosse crítico literário era uma maçada porque quase não tinha sobre que escrever.
fonte: Diário de Notícias, Novembro 2003

Todo o seu trabalho literário, com o passar dos anos, tem sido utilizado para os mais diversos estudos, académicos, e de vários prémios, nacionais, por exemplo, por duas vezes, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa, e internacionais; entre estes, destacam-se o Prémio Europeu de Literatura (Áustria), o Prémio Ovídio (Roménia), o Prémio Internacional de Literatura da União Latina (Roma), o Prémio Rosalía de Castro (Galiza), o Prémio Jerusalém de Literatura, o Prémio Iberoamericano das Letras José Donoso e o Prémio Camões.
A editora inicial de António Lobo Antunes era a
Editorial Vega, que publicou os seus primeiros quatro livros. A partir do Fado Alexandrino, Lobo Antunes é editado pela Publicações Dom Quixote.
Em 2003, ao editar o Boa tarde Às Coisas Aqui Em Baixo, iniciou a colecção
ne varietur. Todos os livros seguintes têm sido assim editados e têm sido publicadas as suas obras anteriores em edição ne varietur.
Em entrevista ao DN em Fevereiro de 2009, Lobo Antunes anunciou que irá deixar de publicar dentro de dois anos, após a publicação do seu derradeiro livro.

Eu pergunto-me se é possível entrevistar um escritor. Acho que não é porque ele é muita gente. E é muito difícil apanhar essa multidão toda.
fonte: entrevista na RTP 2, programa Por outro lado, 04.04.2006

Citação«(...) Este mês deram-me um prémio literário. (...) e sem que eles sonhassem (sonhava eu) o cancro ratando, ratando, injusto, teimoso, cego.»António Lobo Antunes in Revista Visão de 12 de Abril de 2007
















Muitos dos livros de António Lobo Antunes referem ou reportam-se a todo o processo de passagem do fim do Estado Novo até à implantação da Democracia.


A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.
fonte: Diário de Notícias, 18.11.2003


O fim da Guerra Colonial, o fim de um mundo burguês marcado por valores conservadores e retrógados. Os problemas de mudança social rápida no 25 de Abril e consequentemente a instabilidade política vivida em Portugal. Esse processo de passagem é espelhado nas relações familiares. Regra geral aparecem nos romances deste autor famílias disfuncionais em que o indivíduo está a perder os seus referentes, em que a comunicação é ou nula ou superficial entre os seus membros. Regra geral os anti-heróis dos seus romances são pessoas que exercem profissões liberais oriundos de "boas famílias".

Penso que as mulheres são mais ciumentas do trabalho que das outras mulheres. Mas eu entendo isso. Eu não gostaria de viver com uma mulher que escrevesse porque, se fosse como eu, estaria tão concentrada no trabalho que não existiria mais nada.
fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002
Lobo Antunes tem uma escrita densa. O leitor tem algum esforço de leitura porque, por exemplo, não é raro haver mudanças de narrador e assim o leitor tem tendência a "perder o fio à meada". No entanto apesar de não ser um autor que opte por uma escrita fácil (ou facilitista) Lobo Antunes constitui um fenómeno de vendas e é muito lido internacionalmente, especialmente na
Europa Continental.

Cada vez é mais difícil ler. Tudo o que leio é pior que aquilo que faço, tenho vontade de começar a corrigir tudo.
fonte: Diário de Notícias, 16.02.2009
Na esteira de
James Joyce ou de "The Sound and the Fury " de Faulkner, o narrador é por vezes trocado, como se o ponto de vista saltasse de personagem em personagem. Isto dá uma qualidade de caleidoscópio ao desenrolar da narrativa.

Cada vez mais, quando acabo um livro, o meu medo é o de já estar a rapar o fundo ao tacho. A sensação de que nasci com um certo número de livros e que, se calhar, eles já acabaram.
fonte: Ler, Maio de 2008


Os livros de Lobo Antunes são muito obsessivos e labirínticos dando um tom geral de
claustrofobia e paranóia às suas obras. Apesar disso as suas obras apresentam uma diversidade linguística notável.

Escrever é sobretudo uma questão de trabalho. Há um dom que lhe é dado mas se não trabalhar muito de nada lhe serve. É tudo conquistado penosamente. Aliás, quando está a sair com facilidade, eu desconfio logo. Aquilo que vem muito depressa não pode ser bom.
fonte: Ler, Maio de 2008
Ocorre muitas vezes numa descrição ou pensamento do que está a acontecer a um personagem aparecerem sobrepostos tanto o que está "realmente" a acontecer como uma realidade imaginária. Outros processos típicos são sintagmas nominais complexos como por exemplo "cachoeira dos pulmões". Aqui os substantivos (S1 de S2) não funcionam da maneira habitual em que S2 atribui propriedades sobre S1 ("copo de água"; água está a especificar o conteúdo do copo) mas funcionando este sintagma como uma metáfora ou como uma comparação. (assim esta imagem seria descrita num português mais habitual como "os pulmões fazendo barulho como uma cachoeira"). Em As Naus, um velho cego tem "olhos lisos de estátua"; em Manual dos Inquisidores, uma luneta é descrita como sendo "um tubo de inventar planetas".

Não se trata de viver noutro planeta, mas a verdade é que, quando estou a escrever, a minha vida muda por completo. Encontro uma razão, um motivo e uma direcção.
fonte: Visão, 27.09.2007
Tipicamente ocorrem várias descrições simultâneas, tanto físicas como de pensamentos. É habitual uma
realidade do passado estar misturada com uma realidade do presente. No meio de um diálogo serem inseridos diálogos imaginários ou do tempo passado. Estes processos são usados com mestria por este autor resultando efeitos de grande valor literário.
Só podes começar um livro quando tens a certeza que não vais ser capaz, porque só então escrever se torna uma luta com o material, e a tua vida se vai estreitando porque estás de tal modo habitado pelo livro, numa relação simbiótica, que formas corpo com ele.
fonte: Jornal de Letras, 25.10.2006
Obra
De sua autoria
Memória de Elefante (1979)
Os Cus de Judas (1979)
A Explicação dos Pássaros (1981)
Conhecimento do Inferno (1981)
Fado Alexandrino (1983)
Auto dos Danados (1985)
As Naus (1988)
Tratado das Paixões da Alma (1990)
A Ordem Natural das Coisas (1992)
A Morte de Carlos Gardel (1994)
Crónicas (1995)
Manual dos Inquisidores (1996)
O Esplendor de Portugal (1997)
Livro de Crónicas (1998)
Olhares 1951-1998 (1999) (co autoria de Eduardo Gageiro)
Exortação aos Crocodilos (1999)
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000)

Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar? (a ser publicado em 2009)
Sobre o autor e obra
Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco (2002)
Os Romances de António Lobo Antunes, de Maria Alzira Seixo (2002)
A Escrita e o Mundo em António Lobo Antunes - Actas do Colóquio Internacional da Universidade de Évora (2003)
Fotobiografia, por Tereza Coelho (2004)

Eu penso que aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante. Sem ela não pode haver criação, quem não põe sempre tudo em causa, arrisca-se a ter uma vida interior de três assoalhadas, num bairro económico.
fonte: O Jornal, 30.10.1992

Prémios literários
Prémio Franco-Português, 1987 ("Cus de Judas") (Prémio instituído pela embaixada de França em Lisboa, no valor de duzentos mil escudos e atribuído a obras traduzidas para a língua francesa nos últimos cinco anos.)
Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, 1985 ("Auto dos Danados")
Prémio Melhor Livro Estrangeiro publicado em França, 1997 ("Manual dos Inquisidores ")
Prémio Tradução Portugal/Frankfurt, 1997 ("Manual dos Inquisidores")
France-Culture ("A Morte de Carlos Gardel")
Prémio de Literatura Europeia do Estado Austríaco, 2000
Prémio União Latina , 2003
Prémio Ovídio da União dos Escritores Romenos, 2003
Prémio Fernando Namora, 2004
Prémio Jerusalém, 2005
Prémio Camões, 2007[1]
Prémio José Donoso, 2008, atribuído pela Universidade de Talca, Chile

Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser traduzidos em todo o mundo.
fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002

Não sou um senhor de idade que conservou o coração menino. Sou um menino cujo envelope se gastou.
fonte: Livro de Crónicas, 1998

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