ops

Freitag, 5. Juni 2009

Wortes uber Stadte

Albert Camus "Com a morte na alma" (1)
Cheguei a Praga às seis da tarde. Levei de imediato a minha bagagem para o depósito. Tinha ainda duas horas para procurar hotel. E sentia-me cheio de um estranho sentimento de liberdade porque as minhas duas malas já não me pesavam nos braços. Sai da estação, caminhei ao longo de jardins e achei-me de súbito em plena avenida Wenceslau, fervente de pessoas àquela hora. À minha volta um milhão de seres que tinham vivido até então e de cuja existência nada tinha transpirado para mim. Viviam. Eu estava a milhares de quilómetros da terra familiar. Não compreendia a sua língua. Todos andavam depressa. E, ultrapassando-me, todos se separavam de mim. Perdi o pé.
Tinha pouco dinheiro. Para viver seis dias. Mas, ao fim deste tempo, os meus companheiros deveriam juntar-se-me. Todavia, a inquietação assaltou-me também acerca deste assunto. Pus-me então à procura de um hotel modesto. Encontrava-me na cidade nova e todos os que me apareciam cintilavam de luzes, de risos e de mulheres. Andei mais depressa. Qualquer coisa na minha marcha precipitada se assemelhava já a uma fuga. Por volta das oito horas, porém, fatigado, cheguei à cidade velha. Ali, um hotel de aparência modesta, com uma pequena entrada, seduziu-me. Entro. Preencho e minha ficha, recebo a minha chave. Tenho o quatro número 34, no terceiro andar. Abro a porta e encontro-me num compartimento muito luxuoso. Procuro a indicação de um preço: é duas vezes mais elevado do que eu pensava. A questão do dinheiro torna-se espinhosa. Já não posso viver senão pobremente nesta grande cidade.

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