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Freitag, 3. Juli 2009

seitens der Städte..WIEN: Paul Celan

PAUL CELAN

Foi um poeta romeno radicado na França.
Seu verdadeiro
apelido de família era Antschel (ortografia alemã) ou Ancel (ortografia romena). Celan é um anagrama da ortografia romena.
Sobrevivente do
Holocausto, Celan foi um dos mais importantes poetas modernos da língua alemã.
Prémios
1960 - Prêmio Georg Büchner

Viena, Dezembro de 1947. Paul Celan acaba de chegar. Para trás, a longa, difícil e gelada travessia da Hungria. Para trás, Bucareste e a língua romena. Para trás, mais para trás, os trabalhos forçados, a destruição e a perseguição nazi, os pais mortos e deixados sem sepultura, Czernowitz, a sua terra, terra de homens e de livros, a casa, luzes e cheiros, fontes, árvores, amigos, rotinas, sonhos. Agora Viena, a antiga capital do império austríaco, outrora a grande referência cultural, um espaço mítico e desejado. Viena, a cidade onde se fala a sua língua, o alemão.
Paul Celan traz no bolso um manuscrito de poemas e uma carta de recomendação de Alfred Margul-Sperber para Otto Basil, conhecido democrata e intelectual austríaco. Nessa carta, a poesia de Celan é descrita como «a mais original e inconfundível revelação da jovem geração de poetas alemães (...) o único contraponto lírico ao trabalho de Kafka» (Bevilacqua, 1999, p. XXIII).
Paul Celan tem 27 anos e, apesar de tudo o que viveu, transporta a força e a esperança da idade. Em poucos meses, consegue desenvolver uma rede de relações no seio da geração jovem, culta, crítica e democrata, que está decidida a fazer renascer a vida cultural na Viena devastada, física e moralmente, pela guerra. Encontra verdadeiros amigos, como o pintor surrealista Edgar Jené e os escritores Milo Dor, Klaus Demus e Ingeborg Bachmann. A sua poesia é bem acolhida e os amigos ajudam-no a publicar e a ler os seus poemas, em público e na rádio. No início de 1948 aparece, na revista Der Plan uma recolha de dezassete poemas seus e, meses mais tarde, é publicado o seu primeiro volume de poesia.
É em Viena que Celan escreve o poema Corona:

«O meu olhar desce até ao sexo dos amantes:
olhamo-nos,
dizemos algo de escuro,
amamo-nos como papoila e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
ou o mar no brilho-sangue da lua.

Ficamos abraçados à janela, olham para nós da rua:
é tempo que se saiba!
É tempo que a pedra se decida a florir,
que ao desassossego palpite um coração.
É tempo que seja tempo.

É tempo.»


Celan, envolvido emocionalmente com Ingeborg Bachmann, fala de amantes que se amam como papoila e memória e afirma que é tempo para o amor, para a proclamação da relação amorosa, para a pedra florir. E o primeiro livro publicado por Celan na Alemanha, em 1952, chamar-se-á precisamente Papoila e memória. Ao assumir este título não será que Celan se interroga sobre o desejo de se deixar embalar pela papoila do esquecimento e, simultaneamente, pela necessidade de preservar as memórias? É-lhe impossível afastar o vivido de destruição da guerra, é imperioso testemunhar, mas também deseja abrir uma estrada para uma nova existência...

Ao longo da sua vida Celan escreverá poemas, publicará livros, receberá alguns prémios, será reconhecido. A sua Obra transportará a memória dos Mortos e procurará, penso, no Encontro com o leitor, no Encontro na «praia do seu coração» uma relação nova e regeneradora. Mas a escrita não o salvará ou, melhor, não o salvará definitivamente. Henri Michaux, que privou com ele, dirá: «A cura, que a escrita lhe trouxe, não era suficiente, não o foi. Saltos inúteis. Sempre na sala dos gritos, encerrado nos instrumentos de tortura. Cada vez mais um céu de tinta» (1970/1999, p. 193).
E, em Abril de 1970, Paul Celan, que residia então em Paris, lança-se no Sena num mergulho definitivo.
Sobre a sua secretária fica uma biografia de Hölderlin, aberta, com uma frase sublinhada: «Por vezes, este homem de génio torna-se sombrio e afunda-se no poço amargo do seu coração» (Felstiner, 1995, p. 287).
Sete rosas mais tarde - Antologia poética, pp. 13-15.
Arte poética - O meridiano e outros textos, p. 34.
Maria Antónia Carreiras



Orvalho (Paul Celan)
Janeiro 16, 2008

Orvalho.
E eu deitado contigo, tu, no lixo,uma lua lamacenta
atirou-nos com a resposta,
nós separámo-nos aos bocados

e voltámos a esmigalhar-nos juntos:
O Senhor partiu o pão,

o pão partiu o Senhor.

Carta a Hans Bender [1960]
Meu caro Hans Bender,

Agradeço-lhe a sua carta de 15 de Maio e o amável convite para colaborar na sua antologia Mein Gedicht ist mein Messer (O meu poema é a minha faca).1

Lembro-me de há tempos lhe ter dito que assim que o poema verdadeiramente está aí, o poeta volta a libertar-se da sua cumplicidade original. Hoje formularia esta opinião de maneira completamente diferente, ou então tentaria diferenciá-la; mas no fundo continuo a ter esta - velha - opinião. É claro que existe também o que hoje, tão fácil e despreocupadamente, se designa de ofício. Mas - permita-me esta redução do pensamento e da experiência - o ofício é, como a correcção em geral, condição de toda a poesia. Este ofício não se faz, com certeza, sobre um chão dourado.2 - quem sabe até se ele assenta sobre algum chão. Tem os seus abismos e profundezas, e alguns - ah, mas eu não faço parte deles - têm até um nome para isso.

Ofício - é coisa das mãos. E estas mãos, por outro lado, só pertencem a um indivíduo, isto é, a um único ser mortal que com a sua voz e o seu silêncio busca um caminho.
Só mãos verdadeiras escrevem poemas verdadeiros. Não vejo nenhuma diferença de princípio entre um aperto de mão e um poema. E não nos venham com o "poieín" e coisas assim. Isso significava, juntamente com as suas proximidades e distâncias, sem dúvida qualquer coisa totalmente diferente do que no seu contexto actual.

Existem, com certeza, exercícios - no sentido espiritual, caro Hans Bender! E para além disso há também, a cada esquina lírica, toda a espécie de experiências com o chamado material verbal. Poemas são também oferendas - oferendas àqueles que são atentos.3 Oferendas que transportam um destino.

"Como se fazem poemas?"

Há anos atrás pude, por algum tempo, ver e, mais tarde, a partir de uma certa experiência, observar atentamente como o "fazer" se vai transformando, através da factura em contra-facção.4 Sim, isto também existe, como deve saber... Não acontece por acaso.

Vivemos sob céus sombrios e... existem poucos seres humanos. Talvez por isso existam também tão poucos poemas. As esperanças que ainda me restam não são grandes; tento conservar aquilo que me restou.

Com os melhores votos, para si e para o seu trabalho.

Paul Celan
Paris, 18 de Maio de 1960
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1 A antologia em questão, que inclui a carta de Paul Celan, é uma edição aumentada, em relação à primeira, de 1955, e foi publicada pela Editora List, de Munique, em 1961. A páginas 166 pode ler-se a seguinte nota do organizador: "Paul Celan autorizou a publicação desta sua carta pelo organizador da Antologia, com o desejo expresso de que "ela fosse tomada por aquilo que é: como uma carta dirigida a si, com a data do dia de hoje (18 de Maio de 1960)".

2 A frase só se compreende à luz de um antigo provérbio segundo o qual um bom ofício, uma vez aprendido, é sempre rentável. Nos Provérbios de Sebastian Franck (Frankfurt, 1560) ele é citado na versão atribuída ao humanista Johannes Agricola: "Um ofício tem um chão de ouro".

3 Cf. nota 21 a "O Meridiano".

4 O original explora um jogo de palavras que se procurou manter: a machen (o acto) / die Mache (o processo e o resultado) / Machenscaft (o fazer intriga, trama, manobra) corresponde "fazer" / "factura" / "contra-facção".


Túmulo de Celan, Paris.

Im:Wikipedia

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