ops

Dienstag, 17. November 2009

seitens der Städte, Lissabon, Eugénio de Andrade

LISSABON 09
Foto:G.Ludovice
Eugénio de Andrade

José Fontinhas (nome verdadeiro de Eugénio de Andrade) nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia da Beira Baixa situada entre o Fundão e Castelo Branco, filho de uma família de camponeses, ";gente que trabalhava a pedra e a terra". A sua infância é passada com a mãe, que é a figura dominante de toda a sua vida e da sua poesia. O pai, filho de camponeses abastados, pouco esteve presente, dado que o casamento, efectuado mais tarde, durou muito pouco.

Procura a maravilha. Onde um beijo sabe a barcos e bruma. No brilho redondo e jovem dos joelhos. Na noite inclinadade melancolia. Procura. Procura a maravilha.

Entra para a escola da aldeia natal aos 6 anos. Um ano depois, muda-se com a mãe para Castelo Branco. Em 1932, muda-se novamente, agora para Lisboa, cidade onde se fixara seu pai, e onde permanece por um período de 11 anos. Conclui, entretanto, a instrução primária. Prossegue os estudos e, em 1935, afirma-se em si o interesse pela leitura. Passa horas a ler em bibliotecas públicas e começa a escrever poemas.

Em 1938 escreve uma carta e envia três ou quatro poemas a
António Botto, que manifesta interesse em conhecê-lo. Em 1939 publica o seu primeiro poema, "Narciso" e, pouco tempo depois, passa a assinar com outro nome: nasce o poeta Eugénio de Andrade.
Em 1941 faz-se a primeira referência pública à sua poesia na conferência que Joel Serrão, seu amigo, pronunciou na Faculdade de Letras de Lisboa, sobre "A Nova Humanidade da Poesia Nova". Um ano depois, em Novembro, Eugénio lança o seu primeiro livro de poesia: "
Adolescente". Em 1943, o poeta muda-se novamente acompanhado pela sua mãe para Coimbra, onde permanece até ao final do ano de 1946, altura em que se fixa novamente em Lisboa. Entretanto, em 1944, cumpre o Serviço Militar e, após a recruta, é colocado nos Serviços de Sáude de Lisboa mas, visto que morava em Coimbra, trata rapidamente de transitar para lá. Fazem-se, nesse ano ainda, as primeiras traduções de poemas seus para francês e, em 1945, a Livraria Francesa publica o seu livro "Pureza".
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos.Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.Era no tempo em que os meus olhoseram os tais peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco, mas é verdade:uns olhos como todos os outros.Já gastámos as palavras.Quando agora digo: meu amor...,já não se passa absolutamente nada.E no entanto, antes das palavras gastas,tenho a certezade que todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nomeno silêncio do meu coração.Não temos já nada para dar.Dentro de tinão há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus.

É com "
As Mãos e os Frutos", em 1948, que Eugénio de Andrade alcança o sucesso. A partir dessa data, inicia-se uma carreira especialmente rica em poesia, mas também com produções nos domínios da prosa, da tradução e da antologia. Eugénio de Andrade ergue-se ao primeiro plano da poesia portuguesa.
Entretanto, em 1947, graças a um amigo, ingressa nos quadros do Ministério da Saúde como inspector-administrativo dos Serviços Médico-Sociais, onde permaneceu até 1983. Em 1950 é tranferido para o
Porto, cidade onde ainda hoje vive.
A 14 de Março de 1956 morre a sua mãe e morre uma parte do poeta: "A minha ligação à infância é, sobretudo, uma ligação à minha mãe e à minha terra, porque, no fundo, vivemos um para o outro".

Hoje roubei todas as rosas dos jardins e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Em 1977 inicia-se a publicação da "
Obra de Eugénio de Andrade" pela Editora "Limiar". Nasce, em 1991, a Fundação Eugénio de Andrade, que está a reeditar toda a obra do poeta, sendo o último volume o número 26, o livro de poesia "O Sal da Língua" (1995).
Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny de Vasconcelos, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luís Cernuda, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes, e muitos outros...

Sê tu a palavra

1.Sê tu a palavra, branca rosa brava. 2. Só o desejo é matinal. 3.Poupar o coração é permitir à mortecoroar-se de alegria. 4. Morrede ter ousado na água amar o fogo. 5.Beber-te a sede e partir- eu sou de tão longe. 6.Da chama à espada o caminho é solitário. 7.Que me quereis, se me não dais o que é tão meu?

Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia. Obras em prosa, antologias, álbuns, livros para crianças e traduções para português de grandes poetas estrangeiros (Lorca, Safo, Char, Reverdy, Ritsos, Borges, etc...) completam até ao presente a sua bibliografia, para além de muitos títulos traduzidos e publicados em 20 línguas e em 20 países: na Alemanha, Itália, Venezuela, China, Espanha, no México, Luxemburgo, em França, nos Estados Unidos da América, ...Eugénio de Andrade é, realmente - a par de Pessoa - o poeta português mais divulgado no mundo. A sua obra tem sido, por outro lado, objecto de estudo e reflexão por parte de escritores e críticos literários quer estrangeiros quer portugueses. Avesso a participar em eventos mundanos, o poeta raramente tem concedido entrevistas.


Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargurados meus dias partidos um a um - Eu vi a terra limpa no teu rosto, Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

Estreou-se em 1940 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente. A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).
Em
prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).

Colhe todo o oiro

Colhe todo o oiro do dia na haste mais alta da melancolia

Foi também tradutor de alguma obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.
Em Setembro de 2003 a sua obra Os sulcos da sede foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube Português.

Prémios
Eugénio foi galardoado com inúmeras distinções
[4], entre as quais:
Prémio Pen Clube (1986)
Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986)
Prémio D. Dinis (1988)
Prémio Jean Malrieu (França, 1989)
Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1989)
Prémio APCA (Brasil,1991)
Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996)
Prémio Vida literária da APE (2000)
Prémio Celso Emilio Ferreiro (Espanha, 2001)
Prémio Camões (2001)
Prémio PEN (2001)
Doutoramento "Honoris Causa" (2005).
Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube.

Poesia
Adolescente, 1942.
[2]
Pureza, 1945.[2]
As Mãos e os Frutos, 1948, 21ª edição, 2000.
Os Amantes sem Dinheiro, 1950, 16ª edição, 2000.
As Palavras Interditas, 1951, 13ª edição, 2002.
Até Amanhã, 1956, 13ª edição, 2002.
Coração do Dia, 1958, 12ª edição, 1994.
Mar de Setembro, 1961, 12ª edição, 1994.
Ostinato Rigore, 1964, 11ª edição, 1997.
Obscuro Domínio, 1971, 8ª edição, 2000.
Véspera de Água, 1973, 6ª edição,
Limiar, 1990.
Escrita da Terra, 1974, 7ª edição, 2002.
Homenagens e outros Epitáfios, 1974, 8ª edição, 1993.
Limiar dos pássaros, 1976, 7ª edição, 1994.
Primeiros Poemas, 1977, 10ª edição, 2000.
[3]
Memória Doutro Rio, 1978, 4ª edição, Limiar, 1985.
Matéria Solar, 1980, 5ª edição, 2000.
O Peso da Sombra, 1982, 3ª edição, Limiar, 1989.
Branco no Branco, 1984, 5ª edição, 19.
Vertentes do Olhar, 1987, 5ª edição, 2003.
O Outro Nome da Terra, 1988, 2ª edição,Limiar, 1989.
Contra a Obscuridade, 1988, 5ª edição, 1993.
Rente ao Dizer, 1992, 4ª edição, 2002.
Ofício de Paciência, 1994, 2ª edição, 2000.
O Sal da Língua, 1995, 4ª edição, Associação Portuguesa de Escritores, 2001.
Pequeno Formato, 1997, 2ª edição, 1997.
Os Lugares do Lume, 1998, 2ª edição, 1998.
Os Sulcos da Sede, 2001, 3ª edição, 2002.

É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras,ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos,muitas espadas. É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, as searas,é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer.É urgente o amor, é urgente permanecer.

Antologias poéticas
Antologia [1945-1961],
Delfos, 1961. Esgotado.
Poemas (1945-1966), 3ª edição, 1971. Esgotado.
Poesia e Prosa (1940-1989), 4ª edição, O Jornal/Limiar, 1990. Esgotado.
Poemas de Eugénio de Andrade, select., est. e notas de
Arnaldo Saraiva, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999.
Poesia, 2000. Esgotado.
Prosa
Os Afluentes do Silêncio, 1968, 9ª edição, 1997.
Rosto Precário, 1979, 6ª edição, 1995.
À Sombra da Memória, 1ª edição, 1993.
Antologias
Daqui Houve Nome Portugal, 1968, 4ª edição,
Edições Asa, 2000.
Memórias da Alegria, 1971, 2ª edição,
Campo das Letras, 1996.
Antologia Breve, 1972, 7ª edição, 1999.
A Cidade de Garrett, 1993, 3ª edição, 1997.
[4]
Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas, 1995, 6ª edição, Campo das Letras, 2001.
Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões, 1972, 5ª edição, Campo das Letras, 1996.
Erros de Passagem, selecção e
prefácio, 1982, 3ª edição, Campo das Letras, 1998.
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, 1999, 7ª edição, Campo das Letras, 2002.
Sonetos de Luís de Camões,
Assírio & Alvim, 2000.
Poemas Portugueses para a Juventude, Edições Asa, 2002.
Literatura Infantil
História da Égua Branca, 1977, 8ª edição, Campo das Letras, 2002.
Aquela Nuvem e Outras, 1986, 10ª edição, Campo das Letras, 2002.


Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Keine Kommentare: