Bruxelas, um mês. De pé sob as luzes encantadas.
Em noite assim eu extinguiria minha alma cantando humildemente. Fecharia os olhossob os anéis dos astros, e entre os violinos e os fortes poços da noite descobririaa ardente ideia da minha vida.Em noites assim amaria o fogoda minha idade. Cantaria como um louco este grande silêncio do mundo, vendo queimarem-se nas trevasas vísceras tensas e os ossos e as flores dos nervose a cândida e ligeira arquitecturade uma vida.
Bruxelas com as traves da minha cabeça e uma grinalda de carvões em torno dos testículos de um homem bêbado da sua idade. Cantaria com estes testículos negros, as lágrimas, o coração ao meio do nevoeiro derramando o seu baixo e aéreo sangue,a sua dor, o líricofervor, o fogo de porta entre os símbolos nocturnos. Era tão pura a ideia de que o tempo começavadepois do verde e fértil e exalta do mês da carne. Vergada sobre o livro onde o meu rosto ardia, a vida esperava com sua torres vibrantes, seus grandes lagos límpidos. E eu adormecia e sonhava um homem em voz alta, um vidro incandescente, uma fina flor vermelha colocada sobre a mesa. Era tão violentaa ideia de cantar sem fim, até que voz consumisse esta garganta sombreadade estreitos vasos puros.- Cantar fixa e fria e intensamente sobre a minha rasa luminosa vida, ou sobre os campos transparentes e sombrios de bruxelas do mundo.
Herberto Helder
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